
Foto Original: Ricardo Stuckert
O fenômeno de transferência de votos
é muito relativo e têm que se observar quatro fatores para que isto ocorra: (1)
quem ganha os votos, (2) quem os transfere, (3) o tempo para isso se suceder e
o (4) motor de mudança.
1- Quem ganha votos normalmente têm que ser uma pessoa nova no cenário
político e que não venha de muitas derrotas;
2- Quem transfere têm que ter grande aceitação, confiança e credibilidade
do público;
3- O tempo é relativo. Em caso de campanhas presidenciais é algo de
anos, nas municipais é algo de meses. O tempo têm que ser o suficiente para que
consiga colocar a ideia na cabeça do eleitor;
4- O motor de mudança é o meio onde isto vai ocorrer, em cidades com
características “coronelista” temos grupos que podem ser facilmente influenciáveis,
mas, como nem toda cidade é assim e as pessoas estão cada vez mais conectadas,
o grande fator são as mídias sociais.
Vale ressaltar que existem 3 tipos de transferências de
votos:
1) INDICAÇÃO DO CANDIDATO POPULAR
O primeiro seria o fenômeno em que um candidato muito popular e querido
pelo público indica uma pessoa para que este público vote. Temos como exemplo o apoio que o Lula
deu a Dilma para que ela se elegesse em 2010 à presidência e o apoio que deu ao
Haddad para a prefeitura de SP em 2012. Neste caso, o Lula literalmente caminhou
ao lado dos dois para que convencesse o povo a votar nas pessoas que ele estava
indicando, diferente do que aconteceu em 2018 nas eleições presidenciais quando
ele tava preso e não conseguiu acompanhar o candidato do PT à presidência em
sua campanha.
Mesmo sendo do mesmo partido, a
transferência não foi totalitária por conta do perfil do público: o público do
Lula é a pessoa mais carente e simples, o público do Haddad (que elegeu ele em
SP) era o jovem universitário e pessoas com grau de instrução mais elevado. Ele
não sabia se comunicar com este povo, ele têm uma linguagem prolixa e confusa
sendo que para acessar aquele povo precisava falar de forma simples e objetiva,
coisa que o ex-presidente fazia bem.
2) TRANSFERÊNCIA NO SEGUNDO TURNO
O segundo tipo é a transferência de segundo turno. Acontece quando um candidato que foi
para o segundo turno têm a ideologia parecida com o candidato que não foi. Com
ou sem apoio manifestado pelos candidatos perdedores, esta transferência não é
totalitária, mesmo com candidatos com propostas semelhantes. Isto ocorre pelo
seguinte motivo: não concordar totalmente com a ideologia do candidato/partido
à ser votado, o candidato não transmite confiança e credibilidade para aquele
público ou o público pode votar branco, nulo ou se abster porque o candidato
dele não foi pra briga no segundo turno. Exemplo disso foi o que aconteceu nas
eleições presidenciais da Colômbia em 2018, o primeiro turno terminou da
seguinte forma:
Candidato
|
Ideologia
|
Porcentagem
|
Ivan Duque
|
Direita
|
39,14%
|
Gustavo Petro
|
Esquerda
|
25,08%
|
Sergio
Fajardo
|
Centro Esquerda
|
23,73%
|
Brancos e Nulos
|
1,76%
|
O sentimento dos colombianos que
votaram no Petro e o inconsciente coletivo de um modo geral foi: “já que Petro
e Fajardo estão em partidos com ideologias semelhantes, se eles se unirem, em
tese, podem ganhar de Duque, pois, 48,81% é maior que 39,14%. Só que isto não
ocorreu de uma maneira fidedigna por n fatores, dentre eles é o fato de o Petro
ser uma pessoas bem incisiva, populista e que pensa exclusivamente nos mais
necessitados (lembra o Lula). O Fajardo, por outro lado, tinha uma postura
semelhante ao Ciro: abraça mais a pauta da economia e do desenvolvimento do
país.
O ponto é que no segundo turno
aconteceu o contrário do que todos estavam imaginando. Duque levou a
eleição:
Partido
|
Ideologia
|
Porcentagem
|
Ivan
Duque
|
Direita
|
53,98%
|
Gustavo
Petro
|
Esquerda
|
41,81%
|
Brancos
e Nulos
|
4,2%
|
Note que a transferência de Fajardo
não foi completa para Petro. Boa parte dos eleitores dele votaram em Petro,
mas, a tabela acima me leva a crer que grande parte votaram no Duque.
Outro ponto interessante de se
observar é o aumento em mais de 200% do número de brancos e nulos. O que valida
mais uma vez a hipótese de que se o candidato não ganhou o primeiro, não
necessariamente o eleitor vai votar na pessoa que ele indicou para o segundo
turno. Ele simplesmente pode votar em branco pelo fato da pessoa que ele gosta
não ser uma opção, por exemplo.
3) DEMANDA REPRIMIDA
O terceiro é pegar votos de uma demanda reprimida da
população. Vamos tomar como exemplo de Araguari, uma pequena
cidade do interior de Minas Gerais. Nas últimas eleições presidenciais ela teve
a seguinte relação de votos no primeiro turno:
Resultados 1º
turno eleições residenciais - Araguari/MG
|
|
Candidato
|
Votos
|
Bolsonaro
|
37892
|
Haddad
|
11832
|
Ciro
|
6432
|
Alckmin
|
2051
|
Amoedo
|
2042
|
Boulos
|
264
|
Daciolo
|
545
|
Marina
|
457
|
Alvaro
|
392
|
Meirelles
|
562
|
Vera
|
36
|
Goulart
|
12
|
Eymael
|
8
|
Brancos
|
1639
|
Nulos
|
3708
|
Fonte:http://especiais.g1.globo.com/politica/eleicoes/2018/mapa-da-apuracao-no-brasil-presidente/1-turno/
É notório observar que Bolsonaro teve
grande quantidade de votos (mais da metade dos votos válidos). O curioso é
observar que no segundo turno foi o Haddad
que teve mais ganho de votos, veja os dados:
Resultados 2º turno eleições
residenciais - Araguari/MG
|
|
Candidato
|
Votos
|
Bolsonaro
|
41697
|
Haddad
|
19055
|
Brancos
|
1240
|
Nulos
|
5536
|
Fonte:http://especiais.g1.globo.com/politica/eleicoes/2018/mapa-da-apuracao-no-brasil-presidente/2-turno/
Contudo, podemos concluir que mesmo o
Brasil vindo de um fenômeno de tirar a esquerda do poder (algo que estava há 16
anos), em um cenário de segundo turno, ao invés de um candidato com agenda de
direita ter mais ganho de votos na cidade (em relação ao resultado do primeiro
turno), quem ganhou foi o de esquerda, 7.223 contra 3.805 votos a mais. Tudo
isso, reforça ainda mais uma “demanda
reprimida” de pessoas de Araguari que têm simpatia com pautas esquerdistas
ou (centro esquerda).
No meu ver, para que esta demanda
seja completamente atingida, precisa-se que a cidade tenha como candidato a
prefeito uma pessoa de centro-esquerda que valorize a economia local mas que
não se esqueça das necessidades do povo como: educação, segurança e geração de
emprego.
Para potencializar esta candidatura,
o vice deste candidato deve ser uma pessoa que (1) ou que venha do povão, ou
(2) um esquerdista da alta sociedade. Uma pessoa que vem do povão, como líderes
de bairros periféricos, podem fazer com que o mesmo consiga votos da base da
pirâmide social da cidade, já uma pessoa que venha de uma classe social mais
alta, é alguém que consiga que a parte rica da cidade que se simpatiza com a
agenda centro-esquerdista vote por diversos motivos, dentre eles a afeição. O
candidato a vice-prefeito é o principal cabo eleitoral do prefeito. A pessoa a
ser escolhida precisa ter a aceitação, confiança e credibilidade deste público
para que esta pessoa seja o fio condutor da transferência de votos.
Exemplo de um ótimo candidato a
vice-presidência que serviu como um bom cabo eleitoral ao presidente foi o José
de Alencar com o Lula nas eleições de 2002. A escolha não foi atoa. Lula ganhou
grande notoriedade no cenário político nacional tendo uma postura agressiva que
tinha como principal objetivo defender os direitos dos trabalhadores. Isso
aconteceu nas eleições de 1989, 1994 e 1998. Está postura afastava um dos
atores relevantes para que um político ganhe uma eleição: os empresários.
Nas eleições de 2002 a postura mudou.
Nos debates deixou de ser agressivo e teve uma postura mais branda (daí o slogan Lulinha paz e amor), deu uma
mudada em seu marketing pessoal, e, com o José de Alencar ao seu lado (um dos
maiores empresários do estado de Minas Gerais) ele conseguiu um bom diálogo com
os empresários, fazendo aqui com que ele fosse eleito. Seu vice foi o fio
condutor entre ele e a classe empresária/elite do país.
Indo um pouco além, no cenário em que
o Brasil se encontra e tendo em vista as ideologias dos demais pré-candidatos a
prefeitura da cidade de Araguari, acredito que como têm muitos candidatos de
direita, este setor está saturado e vai acontecer uma antropofagia de anões,
fazendo com que candidatos de esquerda/centro esquerda tenham um oceano azul
enquanto os de direita vão ficar digladiando entre si.
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Por Daniel Eloi e Tiago Carossi
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